Nessa trajetória, conquistada através do prestigio político, alguns documentos consolidaram a Educação Infantil em nosso país. A Constituição Federal de 1988 teve grande importância nesse processo, pois em seu artigo 208 garantiu o direito das crianças menores de 6 anos à educação, sendo agora um direito da criança, opção da família e dever do Estado proporcionar ambientes propícios e seguros ao desenvolvimento da criança. Ao ligar a Educação Infantil ao sistema de educação há também uma mudança na transferência de recursos financeiros, pois até o momento em questão as verbas destinadas ao auxilio dessas crianças era repassado à Secretaria de Assistência Social. O caráter assistencialista antes dirigido apenas às camadas mais pobres da população, como uma forma de compensá-los por seus infortúnios, foi substituído pela expansão do atendimento às demais classes sociais, buscando também uma qualificação nesse atendimento.
Em 1.990 surge outro documento oficial, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante os direitos de crianças e adolescentes, dentre esses o direito à educação. Em 1.996 é promulgada a lei 9.394, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que, além de regulamentar o ensino no país, transferiu para os municípios a responsabilidade sobre a Educação Infantil, definindo-a como a primeira etapa da Educação Básica e explicitando a função pedagógica das salas de atividade. Até então a Educação Infantil assumia um padrão de cuidado nos quatro primeiros anos e, dos cinco a seis anos assumia um caráter pré-escolar, baseado em um material apostilado que mais consistia em uma memorização do que aprendizado, porém visto como necessário para se evitar o futuro fracasso escolar dessas crianças.
Ainda em 1998, a então Secretaria da Educação Fundamental desenvolveu os três volumes dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI). De caráter orientador, os Referenciais tem a função de explicitar e guiar professores e coordenadores das funções da educação infantil em seu caráter de cuidado e de educação, promovendo práticas educacionais sólidas na construção do ser integral em seus aspectos físicos, sociais e intelectuais, buscando atender as demandas das diferentes regiões do país. Dentre os principais desafios de consolidar essa perspectiva educacional está a integração dos eixos temáticos dentro de um currículo, pois a criança aprende e desenvolve-se, sintetizando unidades em totalidades organizadas (LOPES, 2003. p.13).
Outra grande mudança ocorreu em 2006, com a lei n° 11.274, que regulamentou o Ensino Fundamental (Ciclo I) de nove anos, sendo que com essa iniciativa os dois primeiros anos do ensino fundamental seriam destinados para a alfabetização. Assim, a Educação Infantil passa a englobar a faixa etária de 0 aos 5 anos e 11 meses. É necessário pensar quais conceitos a criança desta “nova educação infantil” deve aprender nos seus cinco primeiros anos de vida, além da preocupação em como e porque ensinar nessa etapa de educação, sem antecipar os conteúdos previstos para o Ensino Fundamental.
Recentemente, em 2010, a Secretaria de Educação Básica, órgão do Ministério da Educação, lançou as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, documento de caráter mandatário, que visa garantir a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Como se viu, esses documentos -mandatários ou não- traçaram os rumos da educação infantil em nosso país, promovendo reflexões e trazendo contribuições para o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação das práticas pedagógicas. Baseada nestes norteadores, mais especificamente no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) é que a Educação Infantil trabalha com os 6 eixos temáticos propostos: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática, sendo este último o foco do nosso Blog, mais especificamente o trabalho com jogos e brincadeiras.
Referências Bibliográficas:
BRASIL, Ministério da Educação, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 3. Brasília MEC/ SEB, 1998.
MOURA, A. R. L., LOPES, C. A. E. As crianças e as ideias de número, espaço, formas representações gráficas, estimativa e acaso. Campinas, SP: Graf.FE/UNICAMP; CEMPEM, 2003
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